Um dos maiores atacantes da história do Botafogo e da Seleção Brasileira, Amarildo foi caprichosamente forjado pelos Deuses da Bola.
Em sua curiosa trajetória, o pincel do destino sempre o conduziu por desafios inesperados e ao mesmo tempo surpreendentes.
Com seus cabelos bíblicos de “Sansão”, que quase obrigado, ostentou durante sua infância humilde, Amarildo subiu pela escada do sucesso substituindo o “Rei do Futebol” em uma Copa do Mundo, trincada de frio pela Cordilheira dos Andes.
– Nossa, que menino feio e magrinho!
Aquela afirmação fria e também reveladora de uma vizinha, martelava na cabeça da dona Aída e de seu Amaro, um mecânico ferramenteiro que em 1923 chegou a jogar ponta esquerda da Seleção Brasileira vindo do Goytacaz de Campos.
Então, dona Aída enrolou um terço nas mãos, se encheu de coragem e fez uma promessa pelas almas do purgatório, para que o filho pudesse vingar na vida.
Em troca, deixaria os cabelos do menino crescerem como se fosse uma menina. Naqueles anos trinta e quarenta, era comum deixar os cabelos das crianças crescerem e depois entregá-los em uma oferenda ao santo milagreiro.
Amarildo Tavares Silveira nasceu em Campos dos Goytacazes, cidade no norte do estado do Rio de Janeiro, no dia 29 de julho do ano de 1940. O moreninho, de olhos amendoados, parecia um anjo barroco saltitando atrás das bolas em incontáveis peladas perto de onde morava.
Os incrédulos, que o achavam magrinho demais para enfrentar os encontrões dos marmanjos, acompanhavam sem pestanejar sua intimidade com o brinquedo redondo de borracha.
O cabelo, sempre vaselinado e alinhado, continuava crescendo como nunca, fazendo com que os amiguinhos o provocassem dizendo “Lá vem a menina Maria”. E Amarildo foi ganhando corpo e mantendo seu cabelo sempre comprido.
Tal como seu pai, jogava pela ponta esquerda quando foi encaminhado aos times amadores do Goytacaz em 1957. Pouco tempo depois, o pegaram pela mão e ele foi parar no juvenil do Flamengo.
Ao mesmo tempo em que era afetuoso, era malcriado, revoltado e ao mesmo tempo um tanto desleal em alguns lances. Não gostava de levar desaforos para casa.
Depois do treino, como de costume, Amarildo fumava seu cigarrinho no canto do vestiário quando entrou pela porta o técnico Fleitas Solich, um paraguaio disciplinador, que ao notar aquela conhecida “fumacinha”, foi logo dizendo em tom elevado:
– Amarildo, não quero vê-lo fumando!
– Não grite comigo! Retrucou Amarildo.
– Fora Amarildo, fora! Esbravejou Solich.
– Não te arrebento velho de… por ser uma covardia!
Da Gávea para Vila Isabel, Amarildo errou o ônibus. Ao passar na porta de General Severiano, desceu e foi falar com João Saldanha, que já tinha ouvido falar do garoto.
Assim, naqueles dias de 1958, o Flamengo perdia e o Botafogo ganhava, um dos mais destemidos atacantes do futebol mundial. Com 1:69 m e 67 kg, Amarildo ganhou o apelido de “Possesso” do genial jornalista e escritor Nelson Rodrigues.
Nelson Rodrigues observava com entusiasmo seu futebol valente e destemido, ora como meia esquerda, ora como centroavante.
Dono de uma considerável explosão muscular, impunha suas arrancadas valentes e determinadas, ajudando o time da “Estrela Solitária” na conquista do bi-campeonato carioca de 1961/62.
Convocado pelo técnico Aymoré Moreira para disputar o mundial do Chile em 1962, tudo indicava que ele estaria no grupo apenas para adquirir experiência.
Na segunda partida da Seleção Brasileira naquele mundial aconteceu o inesperado. Pelé se contundiu no empate sem gols contra os Tchecos, com uma séria distensão que o tirou definitivamente do torneio.
Assim, Amarildo teria uma “prova de fogo” logo em seu primeiro jogo de Copa do Mundo, contra o forte selecionado da Espanha.
Com uma vitória e um empate, os canarinhos corriam o risco de não classificar-se para a segunda fase. E o pior de tudo, é que os ibéricos possuíam uma seleção bem treinada, forte e compacta.
A Espanha vinha de uma derrota inesperada frente aos Tchecos e de uma vitória pela contagem mínima contra os Mexicanos. Assim, precisavam de um bom resultado contra o Brasil para permanecer no mundial.
Com o centroavante Coutinho também sentindo uma antiga contusão que não lhe dava tréguas, coube ao experiente Nilton Santos preparar Amarildo em conversas e mais conversas, antes do encontro decisivo contra os espanhóis:
– Garoto, tu vai jogar… e vai jogar como joga no Botafogo!
Disse Nilton Santos, olhando diretamente nos olhos do jovem “Possesso”.
Os espanhóis abriram o marcador e jogavam muito bem. Tudo parecia caminhar para para uma derrota. Aí surgiu o mito Amarildo!
Amarildo marcou os dois gols que levaram o Brasil no embalo de uma virada espetacular, desclassificando o forte time do húngaro naturalizado, Ferenc Puskas.
O atacante do Botafogo fez uma Copa extraordinária, marcando também um gol na final contra os Tchecos e participando de momentos importantes na partida.
Em agosto de 1963, depois de 135 tentos e 238 partidas jogadas pelo time da “Estrela Solitária”, Amarildo foi negociado com o futebol italiano.
Na época, o Milan conseguiu superar o interesse da Juventus e levou o “Possesso” por um verdadeiro caminhão de dinheiro.
Convocado durante o período de preparação da Seleção Brasileira para o mundial de 1966, na Inglaterra, Amarildo contundiu-se em um dos últimos amistosos da seleção, já em território inglês, sendo cortado dias antes da estréia.
Além do Milan, onde permaneceu até 1967, jogou também pela Fiorentina e pela Roma no começo dos anos setenta. Foram nove temporadas na Itália e um título nacional em 1969.
No retorno ao Brasil, Amarildo sofreu uma cirurgia no joelho esquerdo. Jogando pelo Vasco da Gama, precipitou seu retorno aos gramados trazendo sérias complicações que o levaram ao fim de sua carreira no ano de 1974.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar, revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, revista do Esporte, revista Manchete, revista Veja, revista Fatos e Fotos, revista Estádio (Chile), revista Mundo Ilustrado, revista O Cruzeiro, esporte.uol.com.br, gazetaesportiva.net,esporte.ig.com.br, veja.abril.com.br, Arquivo Público do Estado de São Paulo – Memória Pública – Jornal Última Hora,blog.maismemoria.net, cantinhobotafoguense.blogspot.com,datafogo.blogspot.com, solocuriosit.sitiwebs.com, web.tiscalinet.it,magliarossonera.it, site do Milton Neves.
Amarildo Tavares da Silveira
Amarildo Tavares Silveira, mais conhecido como Amarildo (Campos dos Goytacazes, 29 de julho de 19403 4 ) é um treinador e ex-futebolista brasileiro que atuava como atacante.
Carreira
Futebolista de muito habilidade, artilheiro, ponta-esquerda, ele foi figura muito importante na Copa do Mundo de 1962, na qual substituiu Pelé, contundido, participando de quatro jogos e marcando três gols: dois diante da Espanha e um contra aTchecoslováquia, na final da Copa.
Em 1963 foi negociado com o AC Milan, da Itália, onde fez sucesso, jogando até 1967. Jogou ainda na Fiorentina (de 1967 a1971) e na AS Roma (de 1971 até 1972). Voltou ao Brasil em 1973, para defender o Vasco, time no qual encerrou a carreira em1974.
No Botafogo foi "eternizado" como titular do maior ataque do Glorioso em todos os tempos: Didi, Garrincha, Quarentinha, Zagalloe Amarildo. Considera-se que Amarildo e Garrincha ganharam "sozinhos" a Copa do Chile para o Brasil. No Milan, na decisão do Mundial de Clubes contra o Santos em 1963, ele integrou o célebre ataque rubro-negro ao lado de Mora, Lodetti, Mazzola e Gianni Rivera.
Por pouco não jogou futebol. Foi dispensado dos aspirantes do Flamengo. Resolveu servir ao exército, até que o jogadorPaulistinha o convenceu a fazer teste no Botafogo. Acabou aprovado. No alvinegro carioca fez 238 partidas e 135 gols, sendo Bicampeão Carioca (1961/1962), Campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1962 e da Copa Intercontinental de Clubes da França 1963.
Recebeu o apelido de "Possesso" depois da excelente participação na Copa do Mundo de 1962. Pela Seleção Brasileira de Futebol fez 24 jogos marcando 9 gols.
Títulos
Seleção Brasileira
- Botafogo
- / : Torneio Internacional de Paris: 1963*;
- Roberto Gomes Pedrosa/Campeonato Brasileiro de Futebol: 1962
- x Copa dos Campeões Estaduais Rio-SP: 1962
- Campeonato Carioca: 1961, 1962
- Torneio Início: 1961, 1962 e 1963
- Quandrangular da Colômbia: 1960
- Triangular da Costa Rica: 1961
- Pentagonal de clubes do México: 1962
Títulos Individuais
- Melhor Jogador do Torneio Internacional de Paris: 1963
- Artilheiro do Torneio Internacional de Paris: 1963
- Artilheiro do Roberto Gomes Pedrosa: 1962
- Artilheiro da Copa dos Campeões Interestaduais de Clubes: 1962
- Artilheiro do Campeonato Carioca: 1961
- Artilheiro do Torneio Internacional em Costa Rica: 1961
- Artilheiro do Pentagonal Internacional de Clubes: 1962
Informações pessoais | ||
---|---|---|
Nome completo | Amarildo Tavares Silveira | |
Data de nasc. | 29 de julho de 1940 (75 anos) | |
Local de nasc. | Campos dos Goytacazes, Brasil | |
Apelido | Possesso | |
Informações profissionais | ||
Clube atual | Aposentado | |
Posição | Atacante | |
Clubes profissionais | ||
Anos | Clubes | Jogos (golos) |
1956-1957 1958 1958-1963 1963-1967 1967-1971 1971-1972 1973-1974 | Goytacaz Flamengo Botafogo Milan Fiorentina Roma Vasco | (19) (6) 231 (135) 107 (32) 62 (16) 33 (10) 81 (-)2 |
Seleção nacional | ||
1961-1966 | Brasil | 24 (9) |
Times/Equipes que treinou | ||
2008 | América | 1 |
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